Três meses após a eleição presidencial brasileira, a desinformação sobre os dois principais candidatos, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-líder Luiz Inácio Lula da Silva, teve um enorme impacto.
O grande volume de notícias falsas, a criação de novas plataformas de mídia social e o conteúdo mais sofisticado tornaram a verificação das informações mais difícil.
A quantidade de veracidade do conteúdo revisado pela AFP mais que quadruplicou entre janeiro e junho.
Aqueles que produzem notícias falsas sobre eleições rangem os dentes primeiro em um tema totalmente diferente: o coronavírus.
“O conteúdo eleitoral tomou conta do espaço” que antes era dominado pela pandemia de Covid-19, disse Sergio Ludtek, coordenador do Grupo Comprova de Verificação de Informações, composto por 42 meios de comunicação, incluindo a AFP.
Ele acrescentou que “a epidemia provavelmente foi um período de teste para esses grupos” que produzem notícias falsas, observando que mais tarde se tornou um “evento político”.
E com as eleições de outubro se aproximando, a verificação é “mais complicada” do que há quatro anos.
Joyce Sousa, especialista em comunicação digital da Universidade de São Paulo, disse que a desinformação sobre o vírus Covid assumiu “uma nova forma que permeou a política, a economia e a ciência”.
De postagens que colocam em dúvida a segurança das vacinas, a principal forma de desinformação viral agora gira em torno da desconfiança em relação ao sistema eleitoral, seja por meio de pesquisas de opinião ou votação eletrônica.
A votação eletrônica foi originalmente implementada em todo o país nas eleições de 2000 para combater a fraude, mas Bolsonaro não é fã e questionou o método, pedindo votação em papel e apuração pública.
suspeito
A última eleição em 2018 viu grandes quantidades de informações falsas e enganosas, especialmente no WhatsApp. Mas foi fácil conhecê-los.
“O que estamos vendo agora é conteúdo que não é necessariamente errado em si, mas leva a interpretações enganosas”, disse Ludtke.
Foi o que aconteceu em maio em um tweet questionado por uma pesquisa com “apenas” 1.000 pessoas.
Este número estava correto, mas dizer que é insuficiente não é exato.
Isso é suficiente para fazer uma projeção, disseram especialistas à AFP, desde que o conjunto de amostras represente com precisão a diversidade da população.
“Uma das estratégias de um cenário complexo de desinformação é criar suspeita no usuário da rede social, confundindo as coisas a ponto de (o usuário) não saber em quem confiar”, disse Poliana Ferrari, especialista em comunicação que coordena os fatos . Faça check-in na Universidade Católica PUC.
Essas estratégias também jogam com as emoções, disse Souza, distorcendo os fatos e facilitando sua transmissão rápida.
Desde as eleições de 2018, plataformas de mídia social como Telegram, TikTok e Kwai, que permitem a rápida postagem e manipulação de conteúdo visual, ganharam popularidade.
“Transmissor de desinformação”
As últimas pesquisas de opinião da semana passada colocaram Lula à frente com 47% das intenções de voto na eleição de 2 de outubro, em comparação com 28% para Bolsonaro.
Mas alguns conteúdos têm como alvo essas pesquisas na tentativa de reduzir a confiança do público nos pesquisadores.
Videoclipe aparentemente mostrando torcedores brasileiros gritando “Lola, ladra!” Em um estádio lotado, as rodadas começaram recentemente e foram vistas mais de 100.000 vezes em apenas uma plataforma ao lado da pergunta: “Este é o líder da votação?”
Mas a voz foi alterada usando uma ferramenta no TikTok.
Para a Ferrari, o TikTok representa o rosto da desinformação – mais dinâmico e até bem-humorado.
“Como um vírus, o falso polui a audição, distorce a visão, se instala na mente e se esconde atrás do senso de humor do meme”, disse ela.
Por serem “não ofensivos”, tornam-se um vetor de desinformação.
O Supremo Tribunal Eleitoral disse em um documento recente que “informações falsas ou fora de contexto influenciam julgamentos de valor, fazendo com que as pessoas tomem decisões baseadas em preconceitos errôneos”.
Souza acredita que tal conteúdo “destrui o debate racional na sociedade e faz com que o ódio prevaleça sobre o debate público”.
O problema, disse Ludtke, é que a desinformação complexa persiste e “provavelmente permanecerá em alguns setores da sociedade”.
© AFP