Milhares de brasileiros saíram às ruas de São Paulo no domingo, pedindo uma demonstração de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro enquanto ele enfrenta acusações de conspirar para permanecer no poder.
Vestidos com o verde e o amarelo da bandeira do Brasil, que Bolsonaro simbolizou durante o mandato, uma grande multidão de seus apoiadores alinhava-se na Avenida Paulista, uma das principais artérias da capital econômica do país.
Bolsonaro chegou agitando uma bandeira israelense – rejeitando os comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando o ataque de Israel a Gaza ao Holocausto – antes de colocar a mão no peito para o hino nacional.
O ex-oficial do exército, de 68 anos, pediu aos seus apoiadores que participassem de uma “manifestação pacífica para defender o Estado democrático de direito” na capital econômica de São Paulo.
A polícia apreendeu o passaporte de Bolsonaro enquanto ele e seu círculo íntimo enfrentam escrutínio por tentarem se manter no poder depois de perderem as eleições de 2022 para Lula.
– ‘vítima de perseguição’ –
O ex-presidente de extrema direita Bolsonaro negou as acusações e se recusou a responder a perguntas durante uma audiência de meia hora na quinta-feira na sede da Polícia Federal em Brasília.
“Bolsonaro é uma pessoa honesta, vítima de perseguição”, disse o construtor Wilson Asega, de 63 anos, que viajou 700 quilômetros (430 milhas) do estado de Minas Gerais para participar da manifestação.
“É importante apoiá-lo porque ele representa Deus, o país e a família”, acrescentou, repetindo o lema do ex-presidente enquanto pendurava a bandeira do Brasil no ombro.
Uma semana depois da posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023, milhares de apoiadores de Bolsonaro cercaram o palácio presidencial, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, instando os militares a intervir para anular o que chamaram de eleição roubada.
Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos na época, negou a responsabilidade e sugeriu que os manifestantes não eram realmente seus apoiadores.
No entanto, os investigadores acusam há meses Bolsonaro de manobras antidemocráticas, desde um plano para desacreditar o sistema de votação eletrónica do Brasil com uma campanha “falsa” antes das eleições para “legitimar a intervenção militar” caso ele perca.
Bolsonaro revisou um projeto de decreto presidencial que declarava estado de emergência, convocou novas eleições e ordenou a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, chefe do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil.
Eles também divulgaram o vídeo da reunião de julho de 2022, onde Bolsonaro, aos gritos e empossado, ordenou aos ministros que ajudassem a desacreditar o sistema eleitoral.
– Teste de suporte –
Bolsonaro, que governará o Brasil de 2019 a 2022, diz ser vítima de “perseguição”.
Ele também enfrenta várias investigações por supostamente falsificar certificados de vacinação contra a Covid-19 ou apropriar-se indevidamente de presentes de outros países, como joias da Arábia Saudita.
Em junho, um tribunal eleitoral proibiu Bolsonaro de concorrer ao cargo até 2030 devido a ataques ao sistema eleitoral.
No entanto, Bolsonaro ainda é considerado o líder da oposição e admirado pelos seus mais ferrenhos apoiadores.
O protesto de domingo à tarde é visto como um teste decisivo ao seu apoio antes das eleições municipais de Outubro, nas quais se espera que a sua influência desempenhe um papel importante no país ainda polarizado.
“Se ele tiver muito apoio, pode dizer que as pessoas estão com ele. Caso contrário, perderá toda a legitimidade”, disse à AFP André Rosa, cientista político da Universidade de Brasília.
Fabio Wajngarten, um dos advogados de Bolsonaro, disse na quinta-feira que esperava ver “500.000 a 700.000” manifestantes.
“Estou indo para lá pelo Brasil. Vai ser incrível!” Pia Kissis, parlamentar do partido de Bolsonaro, escreveu em X.