Por David Piller e Carla Priddy (Associated Press).
RIO DE JANEIRO (AP) – O Supremo Tribunal Federal concordou em investigar se o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro inspirou uma gangue de extrema-direita que saqueou o Congresso, o Supremo Tribunal e os gabinetes presidenciais do país, uma rápida escalada na investigação que pode levar a consequências legais para um movimento extremista que ele ajudou a construir.
Citando um vídeo que o ex-presidente postou no Facebook dois dias após os distúrbios, o juiz Alexandre de Moraes atendeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República para incluir Bolsonaro em uma investigação mais ampla. Ele disse que Luiz Inácio Lula da Silva não foi eleito para o cargo, mas foi escolhido pelo Supremo Tribunal Federal e pela Comissão Eleitoral do Brasil.
Embora Bolsonaro tenha postado o vídeo após os tumultos e deletado pela manhã, os promotores argumentaram que seu conteúdo era suficiente para justificar uma investigação antecipada sobre sua conduta.
Fora isso, Bolsonaro evita comentar a eleição desde a derrota de 30 de outubro. Ele repetidamente lançou dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica antes das urnas e, posteriormente, apresentou uma moção para cancelar milhões de votos lançados nas máquinas e nunca concedidos.
Nenhuma das afirmações do ex-presidente foi comprovada, e os resultados das eleições foram reconhecidos como legítimos por vários políticos, incluindo alguns aliados de Bolsonaro e vários governos estrangeiros.
Ele deixou o Brasil no final de dezembro e está morando em um subúrbio de Orlando para pular a posse de seu sucessor de esquerda em 1º de janeiro, e alguns legisladores democratas instaram o presidente Joe Biden a revogar seu visto.
Após a decisão do juiz na sexta-feira, o advogado de Bolsonaro, Frédéric Wasseb, disse em comunicado que o ex-presidente “rejeita veementemente atos de vandalismo e destruição” desde 8 de janeiro, mas acusou a oposição de “infiltrados” – seus apoiadores de extrema direita. Eles também disseram.
A nota também diz que Bolsonaro “não tem relação ou participação com esses movimentos sociais espontâneos”.
As autoridades brasileiras estão investigando quem atacou apoiadores linha-dura de Bolsonaro em uma tentativa de anular os resultados das eleições de outubro. Os alvos incluem aqueles que trouxeram manifestantes para a capital ou pagaram para transportá-los, e o pessoal de segurança local que assistiu e apoiou os tumultos.
Grande parte da atenção até agora se concentrou no ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que assumiu a chefia de segurança do Distrito Federal em 2 de janeiro e estava nos Estados Unidos no dia dos distúrbios.
De Moraes ordenou nesta semana a prisão de Torres e abriu uma investigação sobre suas ações, que caracterizou como “negligentes e coniventes”. Em sua decisão, tornada pública na sexta-feira, de Moraes disse que Torres demitiu subordinados e fugiu do país antes dos distúrbios.
Um tribunal emitiu um mandado de prisão para o ex-chefe de segurança e ele deve retornar dentro de três dias ou o Brasil exigirá sua extradição, disse o ministro da Justiça, Flavio Dino, na sexta-feira.
Torres negou irregularidades e disse no Twitter em 10 de janeiro que interromperia as férias para voltar ao Brasil para apresentar sua defesa. Três dias depois, ainda não aconteceu.
O ministro apontou para um documento encontrado quando a polícia federal brasileira revistou a casa de Torres; Um projeto de decreto que poderia assumir o controle da autoridade eleitoral do Brasil e anular a eleição. A origem e a autenticidade do documento não assinado permanecem incertas, segundo analistas e a Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político, e não está claro se Bolsonaro ou seus subordinados tomaram medidas para implementar a medida inconstitucional.
Mas o documento “será incluído na investigação policial porque revela de forma mais completa a existência de uma cadeia de responsáveis pelos eventos criminosos”, disse Dino, acrescentando que Torres deve informar à polícia que foi criada.
Mario Sergio Lima, analista político da Medley Advisors, disse que Torres pode ser acusado de abandono do dever se não iniciar uma investigação contra o autor do documento ou denunciar sua existência.
Torres disse no Twitter que o documento pode ter sido encontrado em uma pilha com outros com a intenção de triturar, e que vazou de falsas narrativas contextualizadas com o objetivo de desacreditá-lo.
Dino disse a repórteres na manhã de sexta-feira que nenhuma ligação entre os motins da capital e Bolsonaro havia sido estabelecida.
Na noite de sexta-feira, as contas populares de mídia social de várias figuras proeminentes de direita foram suspensas no Brasil em resposta a uma ordem judicial, que o jornalista Glenn Greenwald descreveu em uma transmissão ao vivo na mídia social.
A ordem, expedida pela juíza de Moraes, direcionou seis redes sociais e estabeleceu prazo de duas horas para bloqueio de contas ou multas. As contas pertencem a um influenciador digital, um YouTuber, um deputado federal recém-eleito, um apresentador de podcast nos moldes de Joe Rogan e um pastor evangélico e senador eleito.
__
Bridi, redatora da AP, relata de Brasília.