A empresa australiana de tecnologia verde, energia e metais Fortescue está atualmente avaliando a viabilidade de seu projeto de hidrogênio verde no estado do Ceará, no nordeste do Brasil, e espera-se que tome uma decisão em breve.
A empresa já manteve conversações com potenciais financiadores do projeto, embora o Brasil insista que ainda carece de regulamentação do setor do hidrogénio verde para fornecer proteção legal.
Em agosto, a empresa apresentou um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a central de Hidrogénio Verde e a sua Declaração de Impacto Ambiental.
A usina será construída no Complexo Industrial e Portuário do Besem em três fases: 1 e 2 com 1.200 MW cada, e Fase 3 com 900 MW adicionais. O projeto tem capacidade para produzir 837 t/d de hidrogênio verde a partir de 2.100 MW de energia renovável.
O próximo passo é solicitar licença de implantação e licença de operação.
Luis Viga, gerente nacional da Fortescue Future Industries, empresa de energia verde do Fortescue Metals Group, e presidente da ABIHV, associação brasileira da indústria de hidrogênio verde, falou ao BNamericas à margem da edição brasileira do Hydrogen Dialogue Latin America.
BNamericas: Qual a situação atual do projeto Fortescue no estado do Ceará?
Vicka: O projeto está progredindo. Agora estamos realizando engenharia e contratação de energia renovável.
Já temos um acordo com [Pecém] Pagamos o valor do arrendamento da área portuária ao governo do estado.
Portanto, esperamos tomar uma decisão sobre este projeto em breve.
BNamericas: Quais são os próximos passos?
Vicka: Assim que concluirmos o estudo de viabilidade e entendermos que o projeto é globalmente competitivo, iniciaremos a construção, pois devemos sempre avaliar a competitividade global.
Mas vale destacar que para fornecer proteção legal e incentivos aos produtores de hidrogénio verde no país, a regulamentação do setor do hidrogénio – legislação é crucial.
BNamericas: Quanto aos investimentos, qual é o plano?
Vicka: Uma vez confirmada a viabilidade deste projeto, estamos falando de bilhões de dólares em investimentos, esses investimentos deverão começar ainda nesta década, nos anos 2027, 2028, 2029, 2030. Mas, novamente, isso só acontece se o plano for considerado. Concorrência.
Mas posso dizer que é um investimento importante que vai gerar empregos e renda.
BNamericas: Qual é o capex e o opex revisados do projeto?
Vika: Ainda não publicamos esta informação.
BNamericas: Qual será o modelo de financiamento deste projeto?
Vicka: Acredito que teremos um modelo financeiro que inclua bancos privados, bancos estatais como BNDES, BNB e instituições multilaterais.
Deveria ser uma atividade financeira com a qual cada banco contribuísse dentro das suas indústrias; BNDES com investimentos de longo prazo, bancos do setor privado com financiamento de curto prazo e bancos multilaterais que trazem financiamento externo.
Já falei com 15 bancos e a boa notícia é que todos estão interessados não só no nosso projeto, mas nos projetos de hidrogénio verde no país em geral.
BNamericas: Quais serão os requisitos de engenharia e serviços para o projeto?
Vicka: Precisaremos de engenharia de processos baseada em GW que nunca foi feita no mundo. Serão necessários muitos engenheiros, EPC, empresas de construção terão alta demanda e milhares de empregos serão criados.
E não considera a construção de mais projetos de energias renováveis que serão dimensionados para satisfazer a procura de hidrogénio verde.
BNamericas: Qual região do Brasil é mais competitiva para projetos de hidrogênio verde?
Vicka: O Nordeste é uma região muito competitiva por causa das energias renováveis e ainda há mais espaço para que essa energia cresça.
Mas deve ficar claro que esses projetos vão beneficiar o país inteiro, primeiro você ajuda a descarbonizar a indústria, agrega valor ao minério de ferro, produz adubos verdes.
Em termos de regiões, o Sul e o Sudeste, atrativos para alguns projetos, têm potencial para se tornarem grandes centros de distribuição de equipamentos para esta indústria, como já acontece com a energia eólica e solar. Vejo enormes implicações positivas para todo o país.
BNamericas: O hidrogênio verde produzido no Brasil é mais para exportação ou para atender o mercado interno?
Vicka: Terei prazer em atender ambos os mercados. Temos capacidade e escala para atender ambos.
BNamericas: Você menciona a falta de controle como um fator que gera dúvidas. Quais as expectativas para a aprovação da regulamentação do hidrogênio verde no Brasil?
Vicka: Existe muita boa vontade por parte de todos os intervenientes políticos em aprovar um regulamento.
Todas as agências deveriam ser reunidas e formar uma política única. Para um investidor, é importante ter proteção legal.
Por exemplo, esse é um dos motivos pelos quais o governo do estado do Ceará está à frente dos demais governos do país porque entende a necessidade de esforços conjuntos entre os atores.
Quanto mais tempo demorar para aprovar uma regulamentação no país, maior será o risco de perda de projetos. Por exemplo, os Estados Unidos já possuem regulamentações inteligentes e rápidas.
BNamericas: Na América Latina, como você vê o Brasil e o Chile, que parecem ser os dois países mais avançados em termos de hidrogênio verde?
Vika: O Chile é um país líder na produção de hidrogênio verde, mas o Chile carece da infraestrutura de um sistema energético nacional integrado que o Brasil possui.
O Chile não tem o mercado de comercialização de energia que temos no Brasil e a quantidade de players aqui.
Já temos experiência no Brasil [producing] 60 GW de energia eólica e solar e isso criou uma enorme curva de aprendizado.
É por isso que no momento o Brasil se apresenta como o país latino-americano na vanguarda do desenvolvimento do hidrogênio verde.