O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está se recuperando de uma avalanche desagradável de revelações na quinta-feira, enquanto a polícia o atacava e seu círculo íntimo em uma investigação sobre um suposto plano de golpe.
O ex-presidente de extrema direita (2019-2022) foi condenado a entregar seu passaporte depois de se autodenominar vítima de “perseguição” e, segundo especialistas, enfrentar prisão em um futuro próximo.
Veja as alegações contidas em documentos judiciais que autorizam a “Operação tempus veritatis” – “hora da verdade” em latim – na qual a polícia realizou dezenas de operações de busca e apreensão e prendeu vários associados de Bolsonaro.
– Que expressões? –
Citando investigadores, a decisão de 135 páginas do juiz do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes, que deu luz verde à medida, encontrou provas de que Bolsonaro, membros do seu gabinete, conselheiros de topo e oficiais militares foram cúmplices num plano para minar a democracia brasileira e mantê-lo no poder.
Ele detalha meses de manobras antidemocráticas de Bolsonaro e seus aliados que se preparam para um “golpe” para marcar as eleições de outubro de 2022 no Brasil, nas quais as pesquisas de opinião sugerem que o titular perderá para o veterano esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não são enganos de um colaborador. É uma ação concertada na presença de vários ministros e do presidente. É muito grave”, disse Geraldo Monteiro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A polícia diz que a primeira fase do plano é desacreditar o sistema de votação eletrônica do Brasil com uma campanha “falsa” antes das eleições para “legitimar a intervenção militar” se Bolsonaro perder.
O Supremo Tribunal divulgou um vídeo da reunião de 5 de julho de 2022 em que Bolsonaro convocou “todos os ministros” para ajudar a desacreditar o sistema de votação.
“Se agirmos depois das eleições, será o caos, a guerra de guerrilha, o país pegará fogo”, disse o ex-capitão do exército.
O general do Exército Augusto Heleno, principal conselheiro de Bolsonaro, acrescentou: “Se vamos bater o punho na mesa para mudar a situação, isso deve ser antes das eleições”.
Em última análise, a tomada de poder mais flagrante dos apoiantes de Bolsonaro ocorreu após as eleições, quando, em 8 de janeiro de 2023 – uma semana depois da posse de Lula – milhares de manifestantes ocuparam o palácio presidencial, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, exigindo a derrubada do exército. O recém-empossado presidente.
– Houve uma conspiração golpista? –
Os investigadores dizem que foram feitos preparativos para um “golpe militar para impedir que o presidente legitimamente eleito tome o poder”.
A polícia alega que Bolsonaro revisou pessoalmente um projeto de decreto no qual convocava novas eleições e ordenava a prisão do juiz Moraes.
O discurso foi proferido a militares de alto escalão na reunião de 7 de dezembro.
Em última análise, isso nunca foi realizado.
A decisão de Moraes também afirmou que “oficiais militares indecisos foram pressionados a aderir à conspiração”.
– Qual é o impacto de Bolsonaro? –
Monteiro classificou o “maior golpe de todos os tempos” para Bolsonaro, causando mais danos do que quando as autoridades eleitorais o proibiram de concorrer ao cargo até 2030, em junho.
“Neste momento, estamos a falar de possíveis acusações criminais”, disse à AFP.
“Bolsonaro provavelmente será preso, dada a sua implicação direta nos preparativos para um golpe.”
Quaisquer acusações criminais surgirão somente após a conclusão da investigação, indicaram logo relatos da mídia brasileira.
A polícia afirma que a sua investigação inclui acusações de “tentativa de golpe” e “subversão do Estado democrático de direito”.
Os acusados em ligação com os motins de 8 de Janeiro foram condenados a 14 a 17 anos de prisão pelo Supremo Tribunal.
– O que são consequências políticas? –
Apesar de enfrentar numerosos escândalos e investigações de abuso de poder desde que deixou o cargo, Bolsonaro permaneceu até agora uma figura extremamente influente na direita.
Monteiro disse que o novo escândalo “é pouco provável que afete o núcleo duro de seus apoiadores mais fanáticos”, mas pode prejudicar a popularidade mais ampla de Bolsonaro.
A empresa de pesquisas e pesquisas Quaest descobriu na quinta-feira que 58 por cento das mensagens nas redes sociais sobre a ação policial eram críticas a Bolsonaro, um raro revés para o mestre da guerra digital.
“Os efeitos a bom prazo parecem ser moderados”, disse a consultora Eurasia Group. Mas acrescentou que as consequências iriam “aprofundar a divisão política do país”.